Criamos nossos próprios monstros na escuridão, os
alimentamos com pesadelos, os trazemos para a realidade por debaixo de nossos
braços frágeis. Eles se alojam nos ângulos apertados de nossas almas sombrias e
frias, nos olham através de nossos olhos serenos, talvez criar um lugar só seu,
um mundo onde só há espaço para você e seus pensamentos conturbados parece ser
a melhor saída, sonhar... sonhar tão alto quanto às nuvens lá do céu – quem
sabe ultrapassá-las, se transformar em esperma das estrelas, em fruto promissor
do universo, ganhar asas, ganhar a galáxia e o além! Fecha os teus olhos para
fugir da violência que te rodeia, fugir do álcool, das drogas e de si mesmo,
tenta fugir da tua própria sombra, porém todos os teus esforços são em vão. Chora. Chora ,
feito uma criança abandonada, sem colo, sem a proteção necessária de seus pais,
tornou-se cômodo, monótono, sempre muito previsível, usufrui da obscuridade do
teu próprio ser, se denomina como um zumbi, um devorador de sonhos insaciável,
mas nós seres tão frágeis intelectualmente não passamos de crianças assustadas
que ainda ostentam medo do bicho papão, que na primeira oportunidade voltaremos
para de baixo das cobertas sem querer encarar as conseqüências. Mas minha cabeça dói. Dói por
não ter mais espaço para os meus pensamentos absurdos, os ventos de inverno
podem me levar para longe, além do horizonte pálido, um silêncio fúnebre se
instalou nos meus sonhos. Anseio pela glória; danço com o confuso espelho das almas
conforme o vento gélido sopra, em minhas visões tão sanguinárias espio pelas
margens dos lagos negros onde jazem escondidos os meus segredos fétidos. Por ti
me levanto desta cama maldita, desço sozinho… Alcance-me, acalme o meu coração
neste tão vasto mar de choro que se tornou a minha tão miserável vida, vago
pela noite, tão perdido e atordoado como antes, infelizmente me sinto fraco -
fisicamente não é claro, mas sinto que sou tão frágil quanto um lírio aqui
dentro. Minha cabeça parece entrar em colapso, minhas mãos estão pesadas tanto
quanto pedras, não se têm nem tempo nem espaço, estou caindo e como sempre só.
Talvez seja assim que me sinto talvez a visão dos pensamentos que me queimam
seja essa, talvez o mesmo fogo que me aquece e me protege do frio seja o mesmo
fogo que poderá transformar em cinzas os meus ossos rígidos. O fogo que queima
a madeira seca me encara e sem pestanejar incendeia as minhas idéias, meus
pensamentos viram fumaças que só eu mesmo posso decifrar a cada suspiro
profundo as chamas se aproximam cada vez mais, o fogo já está a minha volta não
há lugar para se abrigar, as labaredas estão a lamber os meus pés e a reabrir
as velhas feridas que de alguma maneira já estavam cicatrizadas.
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